Informação, entendida de maneira ampla, é seguramente a commodity mais valiosa do século 21. Porém apenas quando sabemos o que fazer com ela.
Hoje em dia conseguimos dados sobre qualquer coisa, ou mesmo qualquer pessoa, com apenas poucos cliques. Mas será que isso quer dizer que nossos cidadãos estão melhor informados? Ou será que nossa sociedade está cada vez mais perdida nesse caos informacional?
Essa é uma questão fundamental para quem trabalha com pesquisas de opinião pública.
Nossa era digital é marcada por interatividade, facilidades de acesso e um certo senso de comunidade virtual (aqui não é a hora de discutirmos as "bolhas" ainda), onde a informação não necessita de intermediários. Nesse contexto seria natural acreditar que as pesquisas de opinião pública se tornariam obsoletas.
A verdade é o contrário. A demanda por pesquisas de opinião pública está crescendo. Empresas, organizações e a sociedade como um todo estão cada vez mais interessadas em entender o que está por trás das ações e opiniões das pessoas ao seu redor. Prova disso é a quantidade de pesquisas divulgadas durante esse ciclo eleitoral de 2018. Quase todos os dias tínhamos números novos e de diferentes institutos que tentavam contar a história da eleição.
Já faz tempo que o conceito de opinião pública deixou de ser encarado como algo homogêneo. O que entendemos como opinião pública na verdade é a soma de opiniões heterogêneas, de indivíduos e grupos diferentes, que podem concordar em alguns pontos e discordar em outros.
A opinião pública também não é estática. Ela existe dentro de um contexto. Tempo e espaço exercem forte influência nas ideias das pessoas. As opiniões dos jovens do Amazonas em 2018 certamente são diferentes das opiniões dos idosos do interior de São Paulo nos anos 90.
Da mesma maneira que a opinião pública geral é composta de partes menores, também o modo de mensurar essa opinião pública é extremamente variável. Pesquisas podem ter um caráter quantitativo ou qualitativo. Podem ser feitas via telefone, face-a-face, ou via internet. Podemos realizar grupos focais ou um pequeno número de entrevistas em profundidade. Tudo depende do objetivo da pesquisa.
Realizar pesquisas de opinião é fazer escolhas e essas escolhas implicam ganhos em alguns aspectos e perdas em outros aspectos. Por exemplo, a opção por entrevistas pessoais garante que o entrevistador poderá esclarecer ao entrevistado ou entrevistada qualquer dúvida sobre o questionário, mas o alto custo dessa opção pode restringir o alcance da pesquisa que se deseja executar. Entrevistas via telefone podem alcançar pessoas em praticamente qualquer lugar, porém provavelmente implicarão em questionários menores porque ninguém deseja ficar pendurado no celular respondendo perguntas de estranhos. Isso limita a quantidade de informação que uma pesquisa pode levantar.
Críticas podem ser feitas a qualquer escolha metodológica, mas o essencial para qualquer profissional que trabalha com pesquisas de opinião é entender que as opções de desenho de pesquisa influenciam nos dados. Ou seja, é impossível dissociar o desenho metodológico da análise sobre o que está por trás da opinião pública. A ordem das questões, a construção das perguntas e mesmo o período de campo, tudo influencia nas respostas das pessoas. Esses fatores precisam ser levados em conta em qualquer análise séria de pesquisa.
Cada vez mais as redes sociais e novas tecnologias de comunicação estão nos levando a um quadro onde a opinião pública é mais dinâmica, interativa e conversacional . Nesse sentido o mercado de pesquisas deve focar também no movimento e fluxo de informações e como isso afeta a formação da opinião pública.
Em termos práticos essas inovações na sociedade em geral devem levar os profissionais de pesquisa a também inovarem e testarem novas abordagens para mensurar e analisar a opinião pública.
Metodologias multimodais podem ser adotadas como meio de aumentar o número de respostas e para permitir que entrevistados, entrevistadores e analistas possam realmente entender o significado do que está de fato sendo discutido nas pesquisas. Normalmente a principal fonte de erro das pesquisas está menos na metodologia e mais em análises equivocadas dos dados.
Mesmo em nossa era digital as pesquisas de opinião pública continuarão relevantes. Isso se deve menos a qualquer inovação metodológica ou possibilidade de criação de bancos de dados enormes, e mais ao simples fato de que os seres humanos continuarão interessados no mundo ao seu redor e curiosos sobre as opiniões, atitudes e perspectivas das pessoas a sua volta.
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